Coluna Ponto Crítico – Por Felipe Corona
Investigação sobre presidente do União Brasil pode chegar a Rondônia
Segundo PF, políticos do estado teriam “emprestado nome” para comprar aeronaves com dinheiro ilícito; caso envolvendo servidor municipal comprando drogas deu o que falar nas redes sociais; gestores têm que punir sim envolvidos, não os denunciantes

Enrolado
O nome do presidente nacional do União Brasil, o advogado Antônio Rueda, apareceu nas apurações da Operação Tank, deflagrada pela Polícia Federal como desdobramento da Operação Carbono Oculto. A investigação mira infiltrações do crime organizado em setores estratégicos da economia, incluindo combustíveis, finanças e transporte aéreo.
Enrolado 2
Segundo depoimento prestado pelo piloto Mauro Caputti Mattosinho, que trabalhou na empresa Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), Rueda seria sócio oculto da companhia, usada em diversas ocasiões por figuras envolvidas nas operações investigadas. O piloto afirmou que o dono da TAP, Epaminondas Chenu, mencionava que o dirigente partidário liderava um grupo “com muito dinheiro que precisava gastar” na compra de aeronaves.
Muita grana
De acordo com registros da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), ao menos quatro aeronaves estariam vinculadas a Rueda, embora registradas em nome de terceiros. Juntas, elas somam valor superior a R$ 60,4 milhões.
Laranjas
Os documentos colhidos na investigação revelam que parte das aeronaves passou por empresas ligadas a Bruno Queiroz, contador de 37 anos, natural de Fortaleza e residente em São Paulo. Ele figura como dirigente de companhias como a Magic Aviation, a Bariloche Participações S.A. (com capital social de R$ 110 milhões) e a Rovaniemi Participações S.A.
Laranjas 2
Todas as aeronaves atribuídas a Rueda são operadas pela Transportes Aéreos Piracicaba (TAP), empresa também usada por Roberto Augusto Leme, conhecido como Beto Louco, investigado em operações ligadas a organizações criminosas.
Políticos de RO
O Blog Entrelinhas, do jornalista Nilton Salina, revelou que Rueda teria adquirido três das cinco aeronaves da TAP em nome de políticos de Rondônia, que teriam “emprestado o nome” para formalizar a compra em troca de influência política. A Polícia Federal investiga se o financiamento das aeronaves foi realizado com recursos de origem suspeita.
Políticos de RO 2
A suspeita se intensificou após dois chefes da facção investigada terem escapado em aviões da TAP, e também por indícios de que empresas de transporte terrestre em Rondônia poderiam ser usadas para movimentações financeiras suspeitas.
Defesa
Antonio Rueda negou qualquer envolvimento com o caso. Em nota, declarou: “Meu nome foi suscitado em um contexto absolutamente infundado. Estou sendo vítima de uma campanha difamatória”. O presidente do União Brasil afirmou ainda que tomará medidas judiciais para resguardar sua imagem.
Próximos passos
Até o momento, a única referência direta a Rueda consta no depoimento do piloto Mattosinho. A PF avalia se abrirá uma nova frente de investigação contra o dirigente partidário, caso surjam evidências adicionais sobre sua participação nas operações societárias e financeiras relacionadas ao transporte aéreo.
Poderes
O União Brasil, comandado por Antônio Rueda, indicou os presidentes dos Departamentos Estaduais de Trânsito, os Detrans, em sete das 27 unidades da Federação. As indicações são chanceladas pelo próprio Rueda, que também já determinou a troca de nomes quando insatisfeito com o apadrinhado.
Poderes 2
Em Rondônia, o Detran é chefiado desde junho do ano passado pelo empresário Sandro Rocha, irmão do governador Marcos Rocha, do União Brasil. Sandro deve disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa do estado pelo União Brasil em 2026.
Acusações
Em junho deste ano, o ex-secretário da Casa Civil do governo de Rondônia, Júnior Gonçalves acusou Sandro Rocha de conflito de interesses por causa de um contrato da autarquia com a empresa Uzzipay Administradora de Convênios LTDA. Segundo o ex-secretário, Sandro trabalhou na empresa até 2023. Em janeiro deste ano, a empresa fechou um contrato de R$ 72 milhões para fornecer combustíveis a diversos órgãos públicos, inclusive ao Detran.
Bilhões
Os órgãos dispõem de orçamentos bilionários: só no Rio, a arrecadação é estimada em R$ 2,39 bilhões em 2025. Rueda foi procurado para saber por quê os Detrans são considerados postos estratégicos para o dirigente. Não houve resposta. O União Brasil é a legenda com mais presidentes de Detrans no país; a segunda é o PP, com seis indicados. Desde o fim de agosto, os dois partidos integram uma federação, a União Progressista.
Mais poder
Em números, a federação é hoje a maior força política do país, com 15 senadores, 109 deputados federais, 1.335 prefeituras (quase ¼ do total) e sete governadores. Também tem a maior fatia dos fundos Eleitoral (R$ 953,8 milhões) e Partidário (R$ 197,6 milhões), considerando os valores de 2024.
Aqui também
Rueda e o União Brasil indicaram os presidentes dos Detrans em sete unidades da Federação: Paraná, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Goiás, Rondônia, Roraima e Rio Grande do Sul. No Detran gaúcho, o presidente indicado pelo União Brasil era Edir Domeneghini até 25 de setembro, quando morreu após sofrer infarto em seu gabinete. Ainda não há definição sobre o sucessor.
No Rio
Até o dia 19 de setembro deste ano, o Detran do Rio era comandado pelo ex-deputado federal e ex-prefeito de Três Rios (RJ) Vinícius Farah, filiado ao União Brasil. Ele foi substituído por um delegado da Polícia Civil do Rio, Rodrigo Dias Coelho, a pedido de Rueda. O controle de Rueda sobre o Detran do Rio não é segredo na política do estado.
No Rio 2
Em um processo contra o União Brasil, em 2023, no qual deputados pediam o direito de sair do partido sem perder o mandato, vários parlamentares cariocas acusam Rueda de perseguição e de fazer negociações paralelas para cargos no governo estadual, inclusive no Detran.
De olho
Já começa a correr nos bastidores a preocupação de um certo deputado federal, que tem ligação muito próxima a Antônio Rueda, participando inclusive de uma festa de aniversário com artistas brasileiros na ilha de Mykonos, na Grécia. O convescote durou “apenas” quatro dias, indo de 01 a 04 de agosto.

De olho 2
Entre os convidados, além de figuras políticas carimbadas de Brasília, ainda tinham empresários e nomes conhecidos da música brasileira como Xand Avião e Zé Vaqueiro. A lista de “coleguinhas” foi extensa: os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Efraim Filho (União Brasil-PB), entre outros. Segundo apuração da Folha de São Paulo, uma parte dos convidados preferiu não comparecer com receio da repercussão negativa.
Confusão
A abordagem à pé às 11 da noite de uma sexta-feira no final de agosto, de um ex-servidor comissionado da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA), que teria comprado drogas, deu o que falar. O caso, revelado somente em setembro, repercutiu nas redes sociais, com muita gente criticando o envolvido e alguns poucos o defendendo.
Confusão 2
Para estes, ele não merecia ser punido (exonerado) do cargo, mas sim que ele precisaria de tratamento. O homem foi pego com três parangas de cocaína, sem o carro oficial, diferente do que foi publicado por alguns veículos de comunicação. Foi lavrado um TCO (termo circunstanciado de ocorrência) pela pequena quantidade de entorpecente, e o cidadão, liberado. O caso foi encaminhado da Polícia Civil para o Ministério Público Estadual, que pediu o arquivamento do inquérito.
Confusão 3
Por outro lado, isso serve de alerta para dezenas e dezenas de casos que acontecem corriqueiramente em Porto Velho. A imprensa vive denunciando o desvio de finalidade de carros oficiais: pessoas que buscam filhos em escolas todos os dias; outros que são vistos em restaurantes, consumindo bebidas alcoólicas em horário de expediente (hora de almoço principalmente) e até servidores que se envolveram em acidentes embriagados fora do horário de expediente.
Confusão 4
Muitos queriam atribuir a culpa aos titulares dos cargos. Porém, sejamos justos: cada um com seu CPF. O que deve ser regulamentado é o uso desses veículos, que também já foram vistos em motéis e banhos (balneários) aos finais de semana. E os gestores não tem que proteger os transgressores ou punirem aqueles colegas de repartição que denunciam o uso errado dos carros oficiais.
Confusão 5
O então servidor comissionado foi exonerado logo após a notícia ser divulgada na imprensa. Mas, os gestores têm sim que aumentar a fiscalização (que também pode ser feita por eles) e punir exemplarmente quem transgredir as regras. A exceção não pode virar lei! E repito: os gestores não tem que punir ou caçar os colegas/subordinados que denunciam o que é errado!
*Esta coluna foi escrita utilizando informações divulgadas pelo site Rondoniaovivo nos dias 24 de setembro e 01 de outubro de 2025.
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