AVENTURA POLÍTICA: Cabo Daciolo muda título para RO e embaralha corrida ao Senado
Transferência eleitoral do ex-presidenciável causa alvoroço e expõe fragilidade das lideranças locais

Por Felipe Corona – TVC Amazônia
A política rondoniense acaba de ganhar um personagem improvável, mas midiático. O ex-deputado federal Cabo Daciolo (aquele do “Glória a Deus!” e das orações em plenário) transferiu seu título eleitoral para Rondônia, em um movimento que soa menos como fé e mais como cálculo político.
A mudança reforça as especulações de que Daciolo pretende disputar uma vaga no Senado em 2026, o que já acende o sinal amarelo entre os caciques locais.
O senador Marcos Rogério (PL) deve buscar a reeleição, enquanto nomes como Sílvia Cristina e o empresário Bruno Scheid, o “candidato do agro” apadrinhado por Jair Bolsonaro, observam com cautela a movimentação do recém-chegado.
Discurso messiânico e voto religioso
Com cerca de 42% da população se declarando evangélica, Rondônia é terreno fértil para o discurso moralista e patriótico que Daciolo domina como poucos. Sua retórica de salvação nacional pode encontrar eco entre eleitores cansados da política tradicional — mas também pode reforçar a superficialidade do debate, trocando propostas por pregações.
O ex-militar, que já oscilou entre delírios conspiratórios e gestos de genuína simplicidade, chega com o mesmo fervor que o transformou em fenômeno das redes. A dúvida é se a fé em seu discurso será suficiente para sustentar uma candidatura competitiva num estado onde a direita já está saturada de messianismos políticos.
Decepções e déjà-vu eleitoral
A chegada de Daciolo também desperta uma sensação incômoda: Rondônia voltará a entregar seu voto a figuras de fora, embaladas por discursos prontos e bênçãos nacionais? Nas últimas eleições, políticos impulsionados pela “onda Bolsonaro” (como Marcos Rocha e Jaime Bagattoli) chegaram ao poder prometendo renovação, mas acabaram reproduzindo os mesmos vícios da velha política.
Agora, o eleitorado se vê diante de uma escolha simbólica: repetir o ciclo de salvadores autoproclamados ou valorizar lideranças que conhecem a realidade do estado além dos palanques e das transmissões ao vivo na internet (lives).
Entre a fé e a política
Daciolo desembarca em Rondônia com o fervor de um missionário e a ambição de um político experiente. Sua presença promete agitar as estruturas, testar alianças e, principalmente, revelar o quanto o eleitor rondoniense ainda se deixa seduzir pelo messianismo político travestido de patriotismo e fé.
O jogo começou — e, mais uma vez, parece que a política local está prestes a se tornar palco de mais um sermão eleitoral.